O Caso Gol Linhas Aéreas: Quando o Leasing em Dólar Vira Risco Cambial
- Royal Partner
- 3 de jun.
- 4 min de leitura
A Gol Linhas Aéreas, uma das maiores companhias aéreas do Brasil, tornou-se protagonista de um dos mais emblemáticos casos de exposição cambial no setor corporativo brasileiro. O motivo? Uma dependência quase total de contratos de leasing de aeronaves em dólar americano, num contexto de receitas em real e forte volatilidade cambial.
Com a entrada da empresa em recuperação judicial nos Estados Unidos, o caso não apenas revelou fragilidades na estratégia financeira da companhia, mas também acendeu o alerta para outras empresas brasileiras com estrutura de custos em moedas fortes. Neste artigo, a Royal Partner Câmbio analisa em detalhes o que aconteceu, por que aconteceu e o que sua empresa pode fazer para evitar o mesmo destino.

O Que é Exposição Cambial e Por Que Ela Preocupa Empresas?
A exposição cambial é o risco que uma empresa corre quando parte relevante de suas obrigações como pagamentos, dívidas ou contratos está em uma moeda diferente da qual ela gera receita. Isso é comum em empresas que importam insumos, possuem dívidas em dólar ou operam internacionalmente, mas têm grande parte de sua receita atrelada ao mercado doméstico.
O problema se intensifica em ambientes de instabilidade econômica, onde a moeda local como o real pode se desvalorizar rapidamente frente ao dólar. Sem mecanismos de proteção (hedge), essas oscilações impactam diretamente os custos operacionais, os balanços contábeis e até mesmo a viabilidade do negócio.
Gol e o Peso do Leasing em Dólar na Aviação Brasileira
No setor aéreo, é comum que companhias optem por arrendar aeronaves ao invés de comprá-las. É o chamado leasing operacional, uma prática internacionalmente difundida que oferece flexibilidade e menor custo inicial. No entanto, esses contratos geralmente são firmados em dólar o que cria um risco cambial latente.
No caso da Gol, esse risco se tornou realidade. Em setembro de 2023, a companhia tinha cerca de US$ 6,5 bilhões em obrigações cambiais e mais de US$ 20 bilhões em compromissos futuros com aeronaves. Diante da alta do dólar e do aumento nas taxas de juros internacionais, os custos dispararam, colocando pressão insustentável sobre o caixa da empresa.
Recuperação Judicial nos EUA: Estratégia ou Último Recurso?
A entrada da Gol no Chapter 11 da Justiça norte-americana em janeiro de 2024 foi uma manobra calculada para reorganizar dívidas e manter a empresa em operação. Esse mecanismo jurídico permite que empresas estrangeiras protejam seus ativos nos EUA enquanto negociam com credores internacionais.
Ao adotar essa estratégia, a Gol ganhou fôlego para lidar com arrendadores de aeronaves, fornecedores e bancos evitando uma paralisação total das operações. Embora drástica, a recuperação judicial é cada vez mais comum entre empresas do setor aéreo latino-americano, como foi o caso da Latam Airlines em 2020.
O Plano de Reestruturação: Financiamento e Negociação
Durante o processo judicial, a Gol estruturou um plano de reestruturação que incluiu:
A captação de US$ 1,9 bilhão em financiamento de saída (exit financing), destinado a manter a operação ativa e negociar pagamentos pendentes;
A renegociação com empresas de leasing e fornecedores, que resultou em mais de US$ 1,1 bilhão em concessões e termos mais flexíveis para manutenção e devolução de aeronaves.
Essas medidas permitiram que a empresa ajustasse seu passivo à nova realidade econômica, reduzindo o impacto do câmbio e reorganizando sua estrutura financeira.
Os Primeiros Sinais de Retomada
Apesar do cenário adverso, o primeiro trimestre de 2025 trouxe dados encorajadores: a receita líquida cresceu 19,4% e o EBITDA recorrente subiu 17,4% em relação ao mesmo período de 2024. Esses indicadores demonstram que a reorganização começou a dar frutos, e que a empresa conseguiu melhorar sua eficiência operacional mesmo em meio a um processo de recuperação judicial.
Ainda é cedo para afirmar que a Gol voltou aos trilhos, mas os sinais de retomada mostram que medidas estratégicas mesmo as mais drásticas podem fazer a diferença entre colapso e continuidade.
O Que Podemos Aprender com Esse Caso?
O episódio da Gol é um alerta para empresas que operam com receitas em moeda local e custos em moeda estrangeira, especialmente em setores com margens apertadas e alta competitividade.
Entre as principais lições, destacam-se:
Gestão proativa de riscos cambiais: É essencial ter estratégias de hedge, como contratos futuros ou swaps cambiais, para mitigar a volatilidade;
Análise de sensibilidade cambial: Planejar cenários e entender como o câmbio impacta diretamente o caixa e os custos operacionais;
Governança financeira robusta: Empresas precisam de processos internos bem estruturados para reagir rapidamente a choques externos, especialmente em um mercado globalizado.
E se a Sua Empresa Estivesse no Lugar da Gol?
A história da Gol não é um ponto fora da curva.Diversas empresas brasileiras convivem com riscos semelhantes: contratos em dólar, leasing de ativos, importações, pagamentos internacionais ou empréstimos externos. Muitas vezes, essa exposição é silenciosa — e só se torna visível quando o dólar dispara ou o caixa aperta.
A grande pergunta é:Sua empresa está preparada para lidar com a próxima oscilação cambial?
Alguns sinais de alerta incluem:
Custos fixos em dólar com receitas em real;
Dificuldade em projetar fluxo de caixa com precisão;
Margens apertadas que não suportam choques cambiais;
Decisões operacionais sendo impactadas pela cotação do dólar.
Se algum desses pontos ressoou com a sua realidade, talvez seja hora de mudar a forma como você enxerga o câmbio: não como uma transação, mas como uma estratégia de proteção e crescimento.
Converse com os especialistas da Royal Partner Câmbio. Descubra como transformar a exposição cambial da sua empresa em uma vantagem competitiva com inteligência, planejamento e suporte personalizado.
🔗 Fale agora com um especialista
Comments